Se acaso o tempo afastar os homens dos homens e as margaridas não brotarem da terra fértil; se eu tiver vida breve e a minha palavra não se fizer ouvir, então que eu possa ser um bom defunto. Desses que deixam alguma derradeira lição ou um olhar brando e leve.
Que eu tenha um vestido branco para vestir e possa me tornar finalmente pura.
Que eu ame meus amigos até esse passo definitivo e lhes deixe como herança o pouco realizado, o nunca feito, o abraço suspenso até segunda ordem, títulos e troféus de boêmia, diplomas de solidão intensa, barcos de pau podre carregados de choro invisível, um lago para se navegar e margens onde se acender fogueiras com cheiro de eucalipto.
Que não briguem pela posse desses bens, nem me chamem de injusta. Apenas guardem tudo em um porão coletivo e a cada novo verão, desviem um único olhar, para os traços permanentes emoldurando a herança da amiga ausente.
quinta-feira, 23 de novembro de 2006
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário